segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Quanto vale uma memória?

Não é minha intenção chegar à conclusão simplista e senso comum de que o dinheiro não compra felicidade. Não acredito que seja bem por aí... Pergunto-me aqui qual o preço daquela memória gostosa da infância ou de certos momentos marcantes de nossas vidas. Talvez seja uma pergunta idiota, mas me faço sempre para justificar certos excessos e não me lembro de algum dia ter me arrependido. Sempre fazemos as coisas pensando em dois objetivos, a satisfação imediata e a lembrança que teremos adquirido daquele momento para o futuro. Temos um grande medo de nos tornarmos velhos sacos vazios e nos darmos conta, tardiamente, que deveríamos ter aproveitado melhor a vida. Então começamos a viver em nome de uma biografia, viver para satisfazer uma certa biografia em mente, para termos o que contar aos nossos filhos e netos. Basta pensar o quanto de nós seria roubado, o quanto de vida nos seria tirado caso perdêssemos nossa memória, nada mais faria sentido e seria como se tivéssemos acabado de nascer.
Então o fator memória passa a ter um valor incalculável, pois quando se perde o show daquela banda que nunca veio no Brasil e que fará uma única apresentação não há dinheiro que pague a memória perdida, mesmo que você fique rico futuramente e pague pra ver o show na Europa... Não será a mesma noite perdida em uma cidade qualquer do Brasil, será uma noite qualquer na Europa cercado de pessoas às quais você não tem qualquer interação. Quanto vale o último jogo do campeonato vencido pelo seu time? Quanto vale dizer "eu estava lá"? Já vi cambistas em final de campeonato terem sucesso em transações de cento e cinqüenta, duzentos reais para ingresso de geral que foram comprados por eles anteriormente por quinze reais. Os cambistas sabem calcular o valor da memória e diria que a valorizam por demais!!! Para os torcedores se torna um investimento de risco. Paga pela memória de hoje ou corre o risco de se arrepender pro resto da vida por QUASE ter visto seu time do coração ser campeão e ficar no quase é uma bosta.
Não é fanático por futebol né? Tudo bem então pense no quanto vale a memória que se tem de uma pessoa que se foi... Um avô, um grande amigo ou quem sabe um grande amor louco! Como calcular o valor da lembrança do último beijo, do último afago e do último olhar... Quanto vale suas lembranças? Não projete demais a vida, quem sou eu pra falar disso, mas vivemos muito no passado e no futuro e o hoje muitas vezes não existe e se torna um dia perdido, um "ontem" apagado na mente um dia estéril e idiota. Mas que se danem os conselhos, não é mesmo? O importante é o quanto você pagaria pela memória que está construindo todos os dias e eu não falo apenas de dinheiro, falo das conseqüências objetivas de nossos atos. O problema de tudo é que a vida não se pausa tomamos decisões sobre a vida vivendo... É como construir um avião em pleno vôo, não dá pra analisar muito. O que faz da vida uma aposta de alto risco, uma transação de memórias. Mas quem liga pra isso? Apenas vivemos! As coisas são assim...

3 comentários:

  1. Isso mesmo Rafa, a vida não pára pra gente pensar e escolher com calma, é um grande risco que todos corremos a cada instante, e é só no futuro que as coisas fazem sentido. Acho que a arte é tentar conciliar as nossas memórias e as nossas possibilidades. Muitas vezes nos prendemos ao passado engessando nossas escolhas do agora ou outras tantas vezes que vivemos no futuro e esquecemos do hoje.
    É como diz uma amiga minha, feliz é a girafa que tem a cabeça nas nuvens e os pés no chão.
    Belo texto, bem vindo ao mundo dos blogs!

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  2. Memória é identidade, sem ela resta apenas a essência do ser, a necessidade e o poder de atende-la ou não.

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  3. Rafa, ótimo texto para o seu "debut"! A memória é, como já nos dizia um velho professor, a chave que acionava, na mente da Proust, toda uma época perdida no cheiro dos biscoitos de madeleine... Esse atributo fantástico da nossa mente - a memória - não tem preço!

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