Certa vez fui tomar uma cerveja e afogar as mágoas e encontrei um senhor que se aproximou e puxou conversa. Eu estava sozinho e ele perguntou se podia se sentar comigo, eu disse que não haveria problemas, mesmo intrigado com o senhor. Ele tinha cabelos compridos, mas bem ralos, era o típico careca cabeludo. Tinha uma barba por fazer e fumava Hollywood, do filtro vermelho. Não fazia idéia do que queria comigo, mas preferi achar que era um velho solitário procurando alguém para conversar e viu em mim um jovem também solitário que pudesse conversar.
Na época eu tinha cabelos também compridos e era metaleiro convicto, mas o velho sabia que eu não era aquilo que o exterior dizia. Puxou conversa perguntando o que um jovem como eu fazia sozinho em um buteco feio e sujo numa noite de sexta. Disse a ele que matava cursinho, pois não me interessava a aula, me perguntou logo se era relacionamento... "Ah as pessoas, como conviver com elas e não magoar ou ser magoado?" eu disse a ele. Então ele riu sugou a fumaça soprou e me disse: "As pessoas não nascem pra satisfazer às outras, elas nascem pra ser felizes!". Perguntei ao velho Sérgio, se era justo isso, como as pessoas podiam fazer isso umas com as outras. Ele disse na sua sabedoria de velho: "Rafael, se você se preocupar demais com os outros se esquece de você e se esquecer de você acaba por magoar os outros! Não há saída, seja você. Pense nos outros mas haja como quiser, a vida é sua. Não há certo nem errado, quem diz isso? As mesmas pessoas hipócritas são as que te condenam." Bebemos algumas cervejas, ele morava em um prédio velho no centro, foi em casa pegar cigarros e trouxe um CD. "Rafael isso aqui é um CD com todas as músicas do Raul, escuta que é bom".
Perdi o contato com o velho Sérgio, mas o CD que ele me deu foi o melhor presente que já ganhei na vida. E aprendi então que não há como viver sem que seus desejos trombem com os de outros, é impossível não magoar. As coisas são assim...